Reflexos do rompimento da barragem de Fundão são tema de reunião do CBH-Piranga


4 dez/2015

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O encontro reuniu representantes de municípios atingidos pela onda de lama e autoridades para discutir os efeitos e propor soluções para recuperação do manancial

Preocupados com os reflexos da onda de lama que atingiu o Rio Doce em função do rompimento da barragem de Fundão, localizada em Mariana – MG, membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piranga (CBH-Piranga) reuniram, no dia 3 de dezembro, em Ponte Nova, especialistas, representantes de municípios afetados e dos segmentos que compõem o colegiado para discutir os efeitos e as alternativas para recuperação do Rio Doce após a tragédia.

Comitês pedem maior participação em processo de recuperação do rio

Abrindo um encontro, a diretoria do Comitê apresentou aos participantes informações sobre a reunião do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, realizada no dia 1º de dezembro, em Governador Valadares. O objetivo do encontro foi colocar em pauta a necessidade de inclusão do colegiado nas decisões referentes à recuperação do manancial, gravemente afetado pelo rompimento da barragem de Fundão. O evento foi marcado pela entrega de um manifesto às autoridades presentes. Participaram do evento os representantes dos Comitês afluentes e do CBH-Doce; o Ministro Interino do Meio Ambiente, Francisco Gaetani; o Secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana, Luiz Tadeu Martins Leite; o Diretor Presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu; a Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Marilene Ramos; o Procurador Geral da União, da Advocacia Geral da União, Paulo Henrique Kuhn;  e o Procurador Geral Federal, da Advocacia Geral da União, Renato Rodrigues Vieira; entre outras autoridades.

Impactos na ictiofauna do Rio Doce

Cientes do prejuízo causado pelo rompimento da barragem para a ictiofauna do Rio Doce, o professor do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Jorge Dergam, foi convidado para falar sobre os reflexos e perspectivas para o manancial. Segundo Dergam, a Bacia do Rio Piranga, que contava com 68 espécies nativas (dados da Fundação Biodiversitas), já sofria com problemas de degradação resultantes da poluição, redução de carga do lençol freático, problemas de drenagem nas estradas rurais, extrativismo ambiental, entre outros fatores. Foi explicado que, como resultado da tragédia, poderá ser observado no Rio Doce a perda de diversidade genética em longo prazo, mortandade do ecossistema do estuário, perda ou degradação do habitat de algumas espécies e a provável extinção de algumas espécies de peixes. Para Jorge, a esperança são os locais que não foram atingidos pelo desastre, sendo os afluentes menores os responsáveis pela exportação de matéria e energia para a calha do Rio Doce. “O Rio Piranga será o fornecedor de vida para o Doce”, destacou. Dergan disse que algumas medidas podem ser tomadas para auxiliar na recuperação do rio, como o controle da pesca predatória, a melhoria da qualidade da água, a recuperação de nascentes e matas ciliares, a realização de estudos de fauna e peixes e a elaboração de programas de educação ambiental; sendo a participação de todos os segmentos essencial no processo. “A gente tem o direito, garantido pela constituição, de termos um ambiente ecologicamente estruturado”, salientou.

Alternativas para a destinação de rejeitos de mineração

No Brasil existem 663 barragens, sendo 445 localizadas em Minas Gerais e 35 consideradas inseguras. Nesse contexto, o professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Ouro Preto, Ricardo Fiorotti, foi convidado para fechar o encontro e falar sobre soluções para os rejeitos de minério gerados a partir de lavras de minério. Uma pesquisa, desenvolvida pela UFOP, em 2010, propõe o aproveitamento do rejeito de duas maneiras: em sua forma bruta, na utilização de insumos para a construção civil e construção pesada; e, após desintegração do rejeito, revenda dos três produtos gerados – areia, argila e minério de ferro. “Nós utilizamos equipamentos que todos conhecem de uma forma que ninguém imaginaria. É como usar bota nas mãos”.